sexta-feira, 24 de maio de 2013

Atleta vegano de 91 anos bate recorde em maratona nos EUA


Ele venceu o câncer e muitas maratonas e garante que foi por causa do veganismo

Mike Fremont se tornou vegano há 21 anos, em 1992, quando completava 70 anos de idade e lutava contra um câncer na próstata. Os médicos deram a ele 3 meses de vida, mas Mike não desanimou e seguiu as recomendações do médico Michio Kushi, formalizadas depois no livro “A Dieta que Previne o Câncer”.
“O tumor encolheu nos dois anos e finalmente consegui matá-lo, apenas com minha alimentação.”, garante o experiente corredor, que não consome nada de origem animal. Nada de laticínios, carnes, peixes ou ovos. Em 1994, ele fez uma cirurgia para retirar o que havia sobrado do tumor e, de fato, os médicos constataram que ele estava curado. Mike decidiu ir além e mudou, além de sua alimentação, seu estilo de vida.
Além de se curar do câncer, o “vovô vegano” começou a correr e a disputar maratonas. Ao longo de duas décadas vem quebrando recordes e chamando a atenção de corredores mais jovens. Esta semana ele completou a meia-maratona de Knoxville, nos EUA, em 3h, 3min e 56seg, um recorde para alguém com mais de 90 anos.

Quase 100 anos de idade sem tomar nenhum remédio

Com o mesmo peso que tinha nos tempos de universidade, Mike garante que não toma nenhum medicamento e o único suplemento que utiliza é o de vitamina D, no inverno. Sua alimentação é baseada em legumes, hortaliças, frutas, grãos e cereais integrais e castanhas.
“É claro que treinar é importante, mas quando você tiver a minha idade, você não poderá treinar a menos que o seu corpo aguente. Eu simplesmente não tenho palavras para explicar a importância da alimentação vegana para minha performance.” – disse em entrevista à Revista Runners World.
Mike está diretamente envolvido com a preservação de rios e córregos de Ohio e seu treinamento inclui mais de 50 km de corrida por semana, algumas horas de musculação e um pouco de canoagem.
Muito simpático, ele contou à Runners World: “Eu não consigo correr rápido o suficiente para me cansar.” Apesar dos recordes, Mike faz questão de enfatizar que correr para ele é um hábito e não uma paranóia por segundos: “Eu faço isso por saúde, por diversão e pela companhia dos amigos.”- disse.

Na companhia do maior maratonista do mundo

Mike não está sozinho. Scott Jurek, considerado o maior maratonista do mundo, também é vegano e atribui à sua alimentação o sucesso de suas performances (leia aqui).
Mike parece estar muito longe de parar de correr e inspirar pessoas sobre como uma alimentação livre de crueldade é saudável para o corpo e para a mente. Acesse www.sejavegano.com.br e descubra os primeiros passos para se tornar vegana(o).

Originalmente postado no site Vista-se11/04/2013.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Agricultura Urbana: Plante comida, não gramados, artigo de André Aroeira Pacheco


Já faz algum tempo que a página Grow food, not lawns[1] vem sendo a minha favorita no Facebook. Um misto de paz, otimismo e boas intenções em um mar de caos, futilidades e ostentação que caracteriza a rede social, talvez o preço que temos de pagar para ter acesso a ferramentas importantes de descentralização de informação e aprendizado (pra quem quer). Mas a imagem que eu vi numa quarta-feira dessas pra trás foi um tanto impressionante, mesmo para o alto nível de conteúdo da página, que se baseia em uma proposição simples ao seu público de 250.000 curtidores de todo o mundo: plante comida, não gramados.

Vista aérea de loteamento em Genebra, Suíça (46°12’N, 6°09’E). Foto: Yan Arthus-Bertrand. Fonte: http://migre.me/dZY9w

A primeira reação ao ver esta imagem é simples de descrever: “Minha nossa, é assim que tinha que ser!!!”.

Vamos esquecer que estamos falando da Suíça, imaginar que esse exemplo é perfeitamente replicável em qualquer lugar do Brasil e tentar responder uma pergunta simples: quais as vantagens de ter uma cidade ou um bairro planejados desta forma?

Em primeiro lugar, como o próprio nome implica, a agricultura urbana traz um benefício explícito, a produção local e descentralizada de alimentos. Isto significa dizer que as pessoas plantam sua própria comida, ou boa parte dela, e não têm muitos problemas para sobreviver ainda que estejam em épocas de crise (ou até desempregados). Com toda certeza, podemos dizer também que a qualidade nutricional destes alimentos será sensivelmente melhor, pelo simples fato de que quem planta o que vai comer o faz da melhor maneira possível, o que ninguém pode garantir quando a produção é feita por terceiros. Este terceiro pode estar cuspindo, urinando ou pior – e mais comum – envenenando sua comida na tentativa de não perder uma única folha da safra e maximizar o lucro. Ainda assim, na agricultura urbana, você tem a opção de terceirizar essa produção: já pensou no lado mais romântico de dar essa responsabilidade para seu(s) filho(s), desenvolvendo nele(s) de forma definitiva um senso de responsabilidade e respeito à natureza? É certamente benéfico – e divertido – para uma criança, fugir da televisão, da internet e do videogame e conhecer o mundo real, ser responsável pelo jantar da semana que vem, ver seu trabalho dando frutos, entender de fato de onde vem a comida, criar uma conexão com o meio natural ao qual pertence (talvez os pais também estejam precisando dessas lições). Ainda, comer coisas realmente saudáveis, plantar e colher flores, árvores, resgatar as sementes, plantar tudo de novo no mês que vem.. Este trabalho terapêutico de poucas horas diárias pode envolver muito mais, um idoso, os vizinhos, uma ‘gangue’ de crianças da rua e do bairro, algumas crianças com necessidades especiais, um autista. E ainda vai economizar uma grana pra família.

Pensando em uma escala maior, os benefícios da agricultura urbana também podem ser maiores. Em um País como o Brasil, que manda diariamente para lixões ou aterros, comida suficiente para alimentar 20 milhões de pessoas com as três refeições[2], uma simples composteira poderia resolver o problema da disposição final do desperdício. Os resíduos orgânicos gerados no preparo ou no desperdício em casa seriam mandados de volta para o ‘jardim’ e, reciclados, alimentariam as próximas ‘safras’, economizando no transporte de comida para os aterros e lixões, na superlotação precoce destes e na decomposição de matéria orgânica em ambiente anóxico, que gera gases de efeito estufa muito piores que o CO2. Advém ainda deste cenário a possibilidade de que quem se preocupa com resíduos orgânicos talvez se preocupe com resíduos recicláveis por uma simples mudança de mentalidade, dando um fim (ou um novo início) adequado este tipo de material (na página GFNL são ensinadas milhares de maneiras de se reaproveitar estes materiais na própria horta, vale dar uma olhada). O alívio na cadeia de resíduos da cidade e consequentemente no meio ambiente podem ser extraordinários.

Dando um passo além e pensando ainda em maior escala (ou menor, como preferem os geógrafos, já que o denominador da fração é quem aumenta), a agricultura urbana representa também um incremento de justiça social e econômica. Com a reforma agrária inacreditavelmente empacada em países como o Brasil há décadas, essa atividade pode se transformar em fonte alternativa de renda e levar à descentralização da produção de alimentos, que tem causado genocídio (inclusive cultural), concentração de renda, destruição ambiental e êxodo rural, aliados ao aumento do trabalho escravo, muitas vezes característicos da agricultura industrial (o agronegócio). Ainda, as menores distâncias entre produtores, agora na cidade, e consumidores, fortalecem os mercados locais, contribuindo também para a distribuição de renda e diminuindo a necessidade de transporte, notável poluidor e responsável por perdas substanciais da produção. No mundo todo são crescentes as iniciativas de criação de hortas comunitárias no lugar de praças abandonadas (ou praças de esportes etc) em comunidades pobres, e as vantagens nutricionais, ambientais e socioeconômicas desses modelos têm dado ótimos retornos.

Mais uma olhada na foto aérea e outras vantagens emergem, desta vez relativas ao planejamento do uso e ocupação do solo. É praticamente inimaginável que uma chuva forte neste contexto resultará nas tragédias previsíveis enchentes que vemos em todos os grandes e médios municípios brasileiros; em primeiro lugar, o percentual de impermeabilização do solo não deve chegar a 30%, permitindo a infiltração e o acúmulo da água no solo, minimizando os escoamentos superficiais; em segundo lugar, é bastante provável que cada agricultor urbano capte e armazene a água das chuvas que chega na sua casa, pois tem consciência de seu valor; e ainda, a diminuição do lixo e da carga de sedimentos arrastados com os escoamentos aumentaria a eficiência do sistema de drenagem do município. Na realidade brasileira, podemos citar o exemplo da impermeabilização da Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana da Cidade de São Paulo (figura abaixo), onde os percentuais de impermeabilização chegam a 84%, tornando inevitáveis as enchentes que assolam toda a região metropolitana da cidade. As soluções mágicas emergenciais (e caras!) propostas pelo governo paulista variam entre a criação de crateras gigantes de armazenamento da água e o desassoreamento do Tietê (leia-se aumento da calha) pra tentar compensar a falta de planejamento na organização espacial da cidade, enquanto o problema real continua sendo ignorado[3].

Tragédia anunciada: distribuição espacial da percentagem de área impermeável dos distritos da zona urbana de São Paulo no começo da década de 2000. Fonte: JACINTHO, ALMEIDA & GOVEIA, 2009[4].

Pensando ainda neste contexto, é possível visualizar corredores ecológicos sendo formados nesta configuração de planejamento urbano, especialmente se mantidas APPs e Reservas urbanas (um Parque, por exemplo). Neste sentido, uma matriz intransponível no modelo atual brasileiro pode se transformar em local mais propício ao estabelecimento e deslocamento de espécies animais e vegetais, melhorando fluxos gênicos e a conectividade entre populações, que de outra forma estariam isoladas e mais vulneráveis.

Esta nova configuração resultaria em aumento da qualidade ambiental e de vida, tornando as cidades menos cinza, mais harmoniosas e mais vivas. A educação ambiental propiciada pelo contato com a terra, o cuidado com o lixo e a convivência com as áreas verdes, aliada à responsabilidade socioambiental na produção local de comida, elevariam o senso de responsabilidade e solidariedade das pessoas. A menor necessidade de dinheiro, o maior (e melhor) contato com os filhos e vizinhos, a existência de vida fora de casa e o real aproveitamento do tempo livre (que talvez aumente) também contribuiriam para o aumento da felicidade das pessoas. Tudo isto em um contexto mais saudável, mais limpo e mais sustentável.

Talvez demoremos para atingir este ponto, mas o primeiro passo pode ser dado por qualquer um, em qualquer lugar. Este texto é meu primeiro passo, o próximo quem sabe será um quintal como o da foto abaixo, onde todos possam ajudar e/ou pegar os alimentos que quiserem. Seja você também mais solidário, mais humano, mais vizinho, mais amigo, mais pai, mais filho, mais feliz. Grow food, not lawns.


Fontes:


André Aroeira Pacheco



Biólogo. Mestrando em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre na Universidade Federal de Minas Gerais.

Originalmente publicado no portal EcoDebate, 11/04/2013

Publicação anterior no portal Ecodebate:


segunda-feira, 6 de maio de 2013

Eletronorte tem que compensar índios Assurini por danos de Tucuruí, confirma Justiça Federal


De acordo com estudo da própria concessionária de energia, são graves os impactos para os indígenas

Foto: site Povos Indígenas no Brasil

A Justiça Federal manteve a decisão de obrigar a Eletronorte a implantar programa de medidas compensatórias e mitigatórias em favor da comunidade indígena Asurini do Trocará, impactada pela construção da usina hidrelétrica de Tucuruí. A decisão, de 2011, havia sido contestada pela concessionária de energia elétrica, mas foi mantida por decisão da 2ª Vara Federal em Marabá.

A decisão atende a pedido do Ministério Público Federal (MPF). Na ação, o MPF tomou como base estudo de impactos socioambientais, patrocinado pela própria Eletronorte e acompanhado pela Fundação Nacional do Índio (Funai), que identificou danos causados aos índios desde a implantação do empreendimento.

O estudo foi realizado por recomendação do MPF entre os anos de 2005 e 2006, mas até hoje a Eletronorte não implantou o programa de ações compensatórias apontadas por ela mesma como necessárias à mitigação dos impactos.

A decisão judicial obriga a Eletronorte a repassar R$ 150 mil mensais aos Assurini até o início da execução das medidas compensatórias, a apresentar novo relatório informando acerca da situação atualizada das ações emergenciais implementadas em favor da comunidade indígena e a comprovar quais foram as ações emergenciais já implementadas.

A Eletronorte também terá que apresentar programa das ações compensatórias que serão implementadas em favor dos indígenas, detalhando e especificando as medidas e projetos contemplados e seus respectivos prazos de execução. A Justiça Federal determinou que a concessionária de energia comprove, no prazo de 90 dias, o inicio da implementação das ações  compensatórias.

“Trata-se de decisão simbólica e de extrema relevância à comunidade indígena Assurini, pois, quando cumprida, finalmente ensejará a compensação dessa comunidade pelos impactos negativos que vêm sofrendo em razão da instalação e do funcionamento da hidrelétrica de Tucuruí, ocorridos há mais de 20 anos. É importante frisar que esses graves impactos, apesar de reconhecidos e identificados pela própria Eletronorte desde 2006, jamais foram por ela compensados, apesar de sucessivas promessas por parte da empresa de que isso ocorreria. A cada promessa descumprida, aumentava, justificadamente, o sentimento de frustração e desamparo por parte da comunidade indígena Assurini”, afirma a procuradora da República Luana Vargas Macedo.

Graves impactos – De acordo com o estudo patrocinado pela Eletronorte, a barragem provocou graves impactos sobre a Terra Indígena Trocará, agrupados em três categorias:

  1. ocupação do entorno, com descontrole do acesso de pessoas à terra indígena, conflitos com fazendeiros e assentamentos do entorno, além da substituição da língua nativa pelo português, introdução de doenças sexualmente transmissíveis, entre outros;

  1. crescimento de Tucuruí, com uso inadequado de energia elétrica, aumento do alcoolismo e tabagismo, facilidade de crédito para aquisição de bens de consumo, casamento com não índios, entre outros; e,

  1. alteração das águas do rio Tocantins, com redução de espécies de peixes da região e mudanças dos hábitos alimentares.

Em diversas reuniões com o MPF, a Funai e a comunidade indígena, a Eletronorte chegou a reconhecer a necessidade de implantação do programa, tendo concordado em apresentá-lo, mas descumpriu os compromissos assumidos, frustrando as expectativas da comunidade e adiando indefinidamente as ações compensatórias.

O processo foi remetido pela Justiça Federal à Funai, para que a autarquia informe a conta bancária em que será depositada a multa mensal de R$ 150 mil.

Processo nº 0009149-40.2010.4.01.3901 – 2ª Vara Federal em Marabá
Link para acompanhamento processual

Originalmente publicado no site do Ministério Público Federal – Procuradoria da Repúblicano Pará, 08/04/2013.


Acordo entre empresas químicas e trabalhadores contaminados em Paulínia é finalizado no TST


O processo de conciliação entre as empresas Basf S/A e Raízen Combustíveis (antiga Shell) e os trabalhadores contaminados por substâncias químicas, em Paulínia (SP), foi finalizado ontem (8), na audiência de oficialização do acordo entre as partes, no Tribunal Superior do Trabalho (TST), em Brasília.

Segundo o documento, as empresas deverão pagar R$ 200 milhões por danos morais coletivos, indenizações individuais proporcionais ao tempo de serviço dos trabalhadores e plano de saúde a todos os ex-funcionários e dependentes. As empresas foram condenadas por exposição de trabalhadores aos componentes tóxicos de pesticidas fabricados no local.

A antiga fábrica de Paulínia, produtora de agrotóxicos, ficou em atividade entre 1974 e 2002. A indústria contaminou o solo e as águas subterrâneas da região com produtos químicos, como os pesticidas clorados Aldrin, Endrin e Dieldrin, compostos por substâncias cancerígenas. No total, 1.068 pessoas, entre ex-trabalhadores e dependentes, integraram o processo.

Esse acordo vem sendo negociado desde 2007, quando o Ministério Público do Trabalho (MPT) da 15ª Região, em Campinas, entrou com uma ação pública contra as empresas cobrando tratamentos de saúde e indenizações por danos morais e coletivos.

Após condenações na primeira e na segunda instâncias, a Justiça determinou que as empresas teriam de pagar cerca de R$ 1 bilhão às vítimas, para o custeio dos tratamentos de saúde e as indenizações. Caso o processo tivesse sido executado segundo a decisão das instâncias inferiores, essa teria sido a condenação de maior valor no âmbito da Justiça do Trabalho.

Na reta final, no âmbito do TST, o processo foi conduzido pela ministra-relatora, Delaíde Miranda Arantes, e pelo então presidente do tribunal, ministro João Orestes Dalazen, que concluiu a conciliação no último dia de seu mandato, em 5 de março.

A maior discordância entre as partes, ao longo do processo, foi em relação ao pagamento de planos de saúde ao maior número possível de trabalhadores e dependentes afetados pela contaminação e à indenização por danos morais coletivos – que deverá ser usada pela Secretaria de Saúde de Paulínia.

Depois do acordo final proposto pelo tribunal, as condições foram submetidas à aprovação das diretorias das empresas e de assembleia dos trabalhadores.

*Colaboraram Débora Zampier e Bruno Bocchini

Edição: Davi Oliveira

Reportagem de Carolina Sarres*, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 09/04/2013

Para saber mais:






terça-feira, 30 de abril de 2013

Operação Tapajós: “Os Munduruku não querem guerra”. Entrevista especial com Roani Valle


“Ficamos desolados com a constatação de que, efetivamente, a Convenção 169 da OIT neste país é inoperante pelo alto grau de obstruções que ela sofre”, diz o antropólogo.

Confira a entrevista.

Foto: Telma Monteiro

“Os Munduruku não querem guerra. Eles querem ser consultados aberta e coletivamente e querem que sua opinião tenha poder vinculante para a interrupção dessas obras”, diz Roani Valle à IHU On-Line, após visitar os indígenas Munduruku contrários à construção do complexo hidrelétrico do Tapajós, no Pará. O antropólogo esteve na aldeia Sawe Muybu no final de março e pôde visualizar a atuação da Força Nacional de Segurança na região. “Fiquei muito assustado com a situação. Tinha conhecimento da Operação Tapajós e sabia da tensão na área, só não imaginava tanto. Presenciei uma incursão noturna na aldeia perpetrada por homens estranhos, não identificados, fazendo algo semelhante ao que batedores fazem, observação sub-reptícia, sondagem, espionagem furtiva; eles atracaram no porto da aldeia por volta das 22h30 do dia 29 de março”, relata em entrevista concedida por e-mail.

Segundo ele, 250 homens da Força Nacional de Segurança – FNS encontram-se entre o Médio e o Alto Tapajós, mas somente 60 fazem a escolta dos biólogos envolvidos com o EIA-Rima da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós. “Quanto aos outros 190 homens do efetivo da FNS, que também estariam na região, as informações são controversas. Há uma versão que afirma estarem estacionados no 53º Batalhão de Infantaria de Selva, em Itaituba-PA, fazendo revezamento da escolta semanalmente; há outra versão segundo a qual teriam se dirigido para a localidade de Machado, no Mangabal, no local da segunda hidrelétrica do complexo, Jatobá, ou seja, a operação não se restringiria à hidrelétrica de São Luiz do Tapajós; e ainda há uma terceira versão que sustenta que esse contingente foi ou será direcionado para o município de Jacareacanga-PA, na vizinhança imediata da terra indígena Munduruku”. E acrescenta: “Se essas informações estiverem corretas, teriam ocupado postos estratégicos na área, não se tratando, portanto, de um processo de militarização geograficamente pontual, mas que se espalha regionalmente entre o Médio e Alto Tapajós, com um amplo perímetro cercado”.

Roani Valle é doutor em Arqueologia e professor-adjunto no Programa de Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal do Oeste do Pará.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Em que contexto e por que acontece a operação Tapajós em Itaituba, no oeste do Pará?

Roani Valle – Até onde me é possível entender, isso se dá no contexto de criar garantias para a execução do complexo hidrelétrico do Tapajós. Todos com quem converso – indígenas, movimentos sociais, intelectuais, acadêmicos, organizações não governamentais etc. – batem nesta mesma tecla.

Foto: Fernanda Ligabue

IHU On-Line – Qual a necessidade da presença militar na região e quantos militares participam da operação?

Roani Valle – Até onde me é dado saber, real necessidade não há. Isso foi desencadeado por arbitrariedades de não indígenas, governo e pesquisadores, que não conduziram uma interlocução adequada com os indígenas e entraram nas áreas de uso da aldeia sem a devida autorização. Nesse caso, eram os pesquisadores da primeira fase do EIA-Rima biológico da hidrelétrica São Luiz do Tapajós, que, ao serem flagrados dentro da área, foram convidados a se retirar, pois estavam invadindo território indígena. Os Munduruku, até onde consegui entender, tomam decisões coletivas, possuem um sistema político centralizado que permeia cerca de 116 aldeias, e apenas querem uma coisa: serem consultados no processo com antecedência da efetiva implantação do complexo hidrelétrico. Não foram. Para o governo, penso que a presença militar se faz necessária para reprimir qualquer possível reação do povo Munduruku contra a implementação do Complexo Hidrelétrico do Tapajós, em detrimento de um processo de consulta correto, que se faz necessário. Fui informado que os militares da Força Nacional de Segurança – FNS encontram-se no momento entre o Médio e o Alto Tapajós, com um efetivo de 250 homens. Também há participação do 53º Batalhão de Infantaria de Selva do Exército, mas não sei quantos deles estão em área.

Justificativa

A Advocacia Geral da União – AGU justifica a operação militar na região como necessária para concluir o EIA-Rima da usina São Luiz do Tapajós ainda em 2013. As informações que me constam dizem que apenas 60 homens da FNS fazem a escolta dos biólogos que estão envolvidos no EIA-Rima da hidroelétrica São Luiz do Tapajós. Quanto aos outros 190 homens do efetivo da FNS, que também estariam na região, as informações são controversas. Há uma versão que afirma estarem estacionados no 53º Batalhão de Infantaria de Selva do em Itaituba-PA fazendo revezamento da escolta semanalmente; há outra versão segundo a qual teriam se dirigido para a localidade de Machado, no Mangabal, no local da segunda Hidrelétrica do Complexo, Jatobá, ou seja, a operação não se restringiria à hidrelétrica de São Luiz do Tapajós; e ainda há uma terceira versão que sustenta que esse contingente foi ou será direcionado para o município de Jacareacanga-PA, na vizinhança imediata da terra indígena Munduruku. Portanto, se essas informações estiverem corretas, teriam ocupado postos estratégicos na área, não se tratando, portanto, de um processo de militarização geograficamente pontual, mas que se espalha regionalmente entre o Médio e Alto Tapajós, com um amplo perímetro cercado.

IHU On-Line – A presença militar na região gerou algum conflito?

Roani Valle – Conflitos diretos, propriamente ditos, nenhum até o momento. Mas a tensão e o medo que eu testemunhei na área é grande, e pode escalonar para uma conjuntura mais crítica, dependendo das decisões que o governo federal tomar de agora em diante (lembremos do que ocorreu em Teles Pires meses atrás). A permanência na atual situação é insustentável. A mensagem entendida é que haverá uma consulta pública pela força das armas da FNS e do BIS. Queremos todos evitar a repetição do conflito de Teles Pires em novembro de 2012, o que é absolutamente indesejável. Entre a flecha e o fuzil há completa consciência de quem sai perdendo, e os Munduruku sabem disso. A meu ver, não haverá confronto nesses termos, porque a luta é jurídica sobretudo pela legalidade do processo. Os Munduruku não querem guerra. Eles querem ser consultados aberta e coletivamente e que sua opinião tenha poder vinculante para a interrupção dessas obras.

Quem está decidindo por um conflito, com implicações talvez genocidas que se avizinha toda vez que um fuzil FAL, AR 15 ou HK 33 é apontado para uma flecha, é o governo brasileiro. Isso porque não se trata de guerra stricto sensu, que se dá entre exércitos formais de estados nacionais. Ao primeiramente criar conflitos socioambientais e, posteriormente, militarizá-los no intuito resolutivo, reprimindo as reações de parcela considerável da sociedade brasileira, que se encontra privada de recursos naturais indispensáveis à sua sobrevivência, o governo brasileiro promove a escalada no terror, na violência psicológica e na insegurança alimentar. Nesse sentido, é possível falarmos num escalonamento para uma guerra de baixa intensidade em instalação ou já instalada.

Esta doutrina militar desenvolvida em Washington nos anos 1970 envolve terror, humilhação, coerção, ameaça, supressão de acesso a recursos naturais e dos próprios recursos, controle da acessibilidade e deslocamento físico-espacial, supressão informacional e conflitos armados sub-reptícios, camuflados (como o de operações para coibição de crimes ambientais), pontuais e rápidos com ações localizadas e orientados para obterem o máximo de impacto emocional e simbólico em suas vítimas, é covarde mas extremamente eficiente. Nesse caso, repito, um possível conflito armado seria apenas de um lado, pois apenas um lado tem armas. E reitero: a natureza do que parece se avizinhar é melhor caracterizável na versão mais branda como uma guerra de baixa intensidade de curta duração e, na pior das hipóteses, como um genocídio em médio prazo. Esta palavra é horrorosa e causa calafrios. Mas infelizmente o que podemos pensar se a relação fuzil X flecha se tornar lugar comum na resolução de problemas socioambientais?

IHU On-Line – O senhor visitou recentemente a aldeia dos Munduruku. O que pode observar nessa visita?

Roani Valle – Conduzo um projeto de arqueologia colaborativa com professores indígenas Munduruku nas aldeias Munduruku do médio Tapajós, e visitei a aldeia Sawre Muybu entre os dias 29 e 30 de março. Fiquei muito assustado com a situação. Tinha conhecimento da operação Tapajós e sabia da tensão na área, só não imaginava tanto. Presenciei uma incursão noturna na aldeia perpetrada por homens estranhos, não identificados, fazendo algo semelhante ao que batedores fazem, observação sub-reptícia, sondagem, espionagem furtiva; eles atracaram no porto da aldeia por volta das 22h30 do dia 29 de março (com o gerador de energia ligado não é possível ouvir aproximação de embarcação motorizada), portanto, supomos que tenham se esgueirado pela trilha que leva até a aldeia e iluminaram com lanterna uma das casas, o que assustou os moradores desta residência, que deram o alerta geral imediatamente.

Os Munduruku são habilidosos caçadores acostumados a rastrear caça na floresta à noite e, ao perceberem a aproximação, foram ao encalço dos invasores que se evadiram rapidamente. Houve, de fato, uma tentativa de invasão do perímetro doméstico da aldeia por elementos desconhecidos. Identificamos marcas de voadeira e de botas numa área adjacente ao porto da aldeia, o que nos sugeriu se tratar de uma incursão furtiva de militares. Mas não podemos provar tal fato, com as evidências encontradas. Independentemente disso, o medo e o terror foram grandes na aldeia e na noite de 29 para 30 de março ninguém dormiu. As pessoas, principalmente crianças e idosos, passaram muito mal, houve desfalecimentos, choro e desespero infantil. Somando-se a isso as incursões da aeronave militar sobre a aldeia nos dias 26 e 27 de março, relatadas pelas pessoas, em que um helicóptero militar ficou parado acima do campo de futebol da aldeia, dando voltas ao redor do perímetro por 30 minutos, enquanto dezenas de voadeiras apinhadas de militares passavam, não por acaso, em frente à aldeia pelo rio (no dia 26).

Entende-se bem a medida do terror que aquelas pessoas passaram entre 26 e 30 de março de 2013. Um fato relevante constatado é que todas as atividades produtivas (caça, pesca, agricultura, produção de farinha) estavam paralizadas ou reduzidas a níveis insuficientes para atender às demandas de sobrevivência da aldeia, em função do estado de medo lá instaurado, gerando uma situação de insegurança alimentar preocupante. Todos temiam Teles Pires e sua semiótica da morte, o helicóptero e a incursão furtiva noturna reimplantaram as memórias aterrorizantes daquela situação nos Munduruku desta aldeia, neles e em nós não indígenas. Estamos todos nós traumatizados.

IHU On-Line – De acordo com o Ministério Público Federal, os Munduruku não aceitam estudos para usinas em suas terras enquanto não for feita a consulta prévia que a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho obriga. Como essa questão tem sido discutida entre os envolvidos?

Roani Valle – Os indígenas têm muita clareza do que pesa sobre eles e de seus direitos; sabem que a convenção n. 169 da OIT, embora no papel tenha sido assinado pelo Brasil desde 2004, na prática não tem tido efeito: não há precedente para ela, não há jurisprudência em solo brasileiro para tal dispositivo internacionalmente aplicado. O que há é uma série de dispositivos instituídos como a Portaria n. 303, a PEC 215, a presidência da comissão de meio ambiente do senado brasileiro na mão do maior sojeiro do país, e mais recentemente o decreto n. 7.957-2013, que institui o Gabinete Permanente de Gestão Integrada para a proteção do Meio Ambiente e regulamenta a atuação das forças armadas na proteção ambiental. Na prática, isso parece se reduzir à militarização de todas as questões socioambientais no Brasil. Com base nisso, ficamos desolados com a constatação de que, efetivamente, a convenção n. 169 neste país é inoperante pelo alto grau de obstruções que ela sofre. Não é aplicada na atual conjuntura por se tratar, em meu entendimento, de um “mal negócio” para o grande capital (inter) nacional que atua ostensivamente por trás e pela frente das hidroelétricas amazônicas, e do grande projeto nacional de desenvolvimento.

IHU On-Line – Quais as maiores dificuldades no diálogo entre os Munduruku e representantes do governo federal?

Roani Valle – Poderíamos atalhar uma resposta para essa questão por diversos caminhos, mas ontologicamente, em sua essência, acredito que representam projetos de existência humana, que se antagonizam por escolha deliberada de um dos projetos. O modelo do governo brasileiro, e da agenda internacional ao qual se submete, é predatório, baseado na acumulação e no consumo industrial de bens e comportamentos insustentáveis para a biosfera planetária em curto prazo. Os Munduruku representam uma filosofia humana milenar em quasi-estase socioambiental com os ecossistemas amazônicos. A meu ver, são sistemas cognitivo-epistemológicos incompatíveis e em competição pela mesma parcela de recursos naturais.

Fenômenos como esse já se repetiram outras vezes na história da ecologia humana desde a especiação de homo sapiens sapiens na África há 200.000 anos. Somos a única espécie de nosso gênero viva nos últimos 25 mil anos. Uma anomalia biológica. Por que será? Mas não se trata de relativizar através de reducionismos biológicos os conflitos humanos; trata-se de uma guerra (em sentido amplo) entre cosmovisões que já dura 513 anos, cujo aspecto interexcludente é artificial, é uma construção cultural, política e econômica, mas não uma inevitabilidade. Enquanto a inexorabilidade do processo de construção das hidroelétricas for defendida – uma invenção perversa da criatividade humana perseguindo um caminho deliberadamente equivocado embriagado por uma cegueira simbólica, cognitiva –, e o governo atuar unilateralmente em territórios Munduruku, com presença militar ostensiva, o diálogo será no mínimo reduzido a trocas de acusações. Em meu entendimento, desde que tenham sua terra e seu rio, os Munduruku conseguem sobreviver neste mundo quase tranquilamente. O problema somos nós, ou melhor, o Estado brasileiro e suas ramificações determinantes extranacionais.

IHU On-Line – Em encontro com os Munduruku, Gilberto Carvalho disse que o complexo de Teles Pires é necessário. De fato é?

Roani Valle – Não sou especialista no tema, mas é possível que isso se encaixe na mesma falácia de inexorabilidade desenvolvimentista acima mencionada. Não é, não foi e nunca será a única alternativa. Não existe um único caminho na vida, nos processos vitais. Afirmar isso em termos culturais é uma falácia equivalente; inevitabilidade é uma falácia biológico-cultural e filosófica. Outro processo questionável é a irreversibilidade quando coadunado à inexorabilidade nas escolhas humanas. Nesse nível ambos os argumentos, quando operam juntos, são falaciosos, embora a irreversibilidade exista no mundo físico e, portanto, biológico-cultural, pois se trata de uma propriedade da matéria, em seu conceito físico, um estado, ou condição, possível de existência das coisas, dos sistemas e de seus processos transformativos. Atingi-la, porém, é relativamente raro.

Processos irreversíveis são normalmente de magnitude catastrófica, erupções vulcânicas, impactos de meteoro e hidroelétricas, por exemplo, têm essa capacidade de afetarem processos ecossistêmicos em níveis irreversíveis. A diferença em relação às duas primeiras catástrofes é que não as escolhemos. Portanto, não se trata de necessidade como condição sine qua non, pois há uma escolha política muito explícita nisso. Não é necessário para o Brasil, é escolhido para o Brasil, para desempenhar um papel instrumental de fornecedor de matérias-primas baratas (energia), porém de alto custo social e ambiental, num mundo em que não temos autonomia muito menos hegemonia (esta segunda totalmente dispensável). Assustadora é a ausência de debate qualificado na população brasileira, em todas as classes e níveis de instrução, e sua complacência e adesão generalizada a essa alucinação coletiva de inexorabilidade desenvolvimentista.

IHU On-Line – Quais as implicações da construção da hidrelétrica São Luiz do Tapajós para os indígenas Munduruku?

Roani Valle – Existem várias possibilidades, todas preocupantes. Num cenário extremo, porém realista e plausível, podemos falar em extermínio no médio prazo por supressão de recursos naturais como uma delas, além de insegurança alimentar e fome. Se houver ação militar mais incisiva e continuada decorrendo em conflito aberto, então pode-se pensar em morte física de um contingente populacional de maneira mais rápida. Por fim, um cenário de genocídio, isto é, sensu stricto, extermínio de uma linhagem genética específica de homo sapiens sapiens ou redução significativa e perigosa de sua variabilidade genética (efeito de gargalo), pode ser ventilado como possibilidade derivada das outras.

Pode-se pensar em outro cenário extremo, porém plausível, mas com menos morte física, ou seja, um grande contingente populacional indígena sendo obrigado a adotar um padrão de vida alienígena, um padrão de vida semelhante ao da parcela da sociedade nacional não indígena mais pobre. Sem autonomia em recursos de sobrevivência econômico-social sofrem um processo de mudança cultural rápida e profunda, descaracterização de padrões socioambientais, simbólicos, linguísticos, filosóficos “tradicionais” Em outras palavras, etnocídio pode ser outro processo menos extremo que o genocídio, mas não menos terrível como preço a ser pago pelo atual modelo desenvolvimentista.

Fato é que a mudança ambiental abrupta e profunda terá um efeito catastrófico para a adaptabilidade humana tapajônica (amazônica) e, nesse caso, a irreversibilidade não é falaciosa, é real e imposta. Eventos de extinção biocultural são plausíveis. Se são implantados do jeito que estão sendo planejados e praticados, esses dois cenários tenebrosos são factíveis em médio prazo. Mas, como cientista, não acredito em inexorabilidade, e tenho pouca fé na irreversibilidade banalizada. Portanto, é possível construirmos outro caminho. Os povos indígenas nas Américas, em boa parte dos casos – e aqui na Amazônia não é diferente –, passaram a maior parte dos últimos 20.000 anos (e essa é uma visão arqueologicamente conservadora) fazendo isso, construindo simultaneamente múltiplas possibilidades desenvolvimentistas.

IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?

Roani Valle – Quero retomar o ponto do engajamento coletivo da sociedade brasileira nessa alucinação coletiva de inexorabilidade desenvolvimentista. É possível que o fenômeno “Lula” tenha sido um fator causal dessa homogeneização. Me pego pensando se, em certo sentido, este fenômeno não representou uma sofisticação na tecnologia de controle social, político e emocional do sistema capitalista internacional. Teria sido, portanto, mais do que uma concessão do sistema, foi realmente um salto evolutivo dentro da biotecnosfera do capital. Um exemplo político-cultural de punctuated equilibria, em que se opera uma microrrevolução, abrupta, intensa e pontual nos mecanismos de dominação e poder, depois do que se segue uma reestabilização controladora amplificada, o atual governo.

Ou podemos pensar numa espécie de exaptação política, em que uma brilhante mente articuladora popular e sindical se torna uma ferramenta valiosa e sofisticada de controle social e ideológico do capital, como a caneta que serve para escrever mas pode servir para rebobinar fitas cassetes, ou prender cabelos.

Seja de uma forma ou de outra, resulta na preparação do terreno para um novo processo de expansão do sistema, uma nova geração dos mecanismos de controle e dominação. Um exemplo tão bem sucedido que a segunda maior força capitalista da Terra representada num estado nacional, os EUA, tentaria replicar uma experiência semelhante, adaptada a sua conjuntura específica, com o fenômeno Obama. Mas isso é apenas uma especulação de que esses dois processos representariam uma homologia política.

Fato é que estamos vivendo tempos difíceis, sobretudo para os povos indígenas e populações tradicionais, e pode piorar. Mas são escolhas. E escolhas não são inexoráveis por natureza; algumas podem ser irreversíveis, como é o caso das hidroelétricas. Terríveis irreversibilidades escolhidas por poucos e impostas a muitos com o argumento falacioso da inevitabilidade desenvolvimentista necessária.

Originalmente publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, 07/04/2013.